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O psicólogo Cláudio Melo faz restrições à palavra bullying |
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Assim como aqueles que estão acima do peso, muitos magros precisam e, às vezes, até se acostumam a conviver com inúmeras agressões psicológicas praticadas dia a dia pela sociedade.
São apelidos pejorativos, críticas à sua aparência, olhares de desprezo ou desaprovação.
Para conversar um pouco sobre este preconceito, o Magrellos em Pauta convidou para uma entrevista o psicólogo Cláudio Melo.
A intenção é explicar porque somos tão cobrados pela aparência e como devemos lhe dar com estas cobranças, além de, claro, abrir um fórum de discussão sobre o assunto.
Magrellos em Pauta – Como explicar esta ditadura da beleza, na qual quem não se enquadra nos padrões pré estabelecidos está fadado ao julgamento alheio?
Cláudio Melo – No passado, lá pelo século XIX, vivia-se uma ditadura mais conceitual, presa aos padrões e tradições da época. Hoje a situação mudou e vivemos uma ditadura corporal, onde a sociedade estabeleceu um padrão de beleza e somos todos exigidos e cobrados de acordo com estes padrões.
Magrellos em Pauta – Quando não preenchemos as exigências corporais estabelecidas, somos cobrados das mais diversas formas, muitas vezes até agressivas. São apelidos maldosos, rejeição social, questionamentos invasivos e abusivos. Podemos então falar de um “bullying social”?
Cláudio Melo – Não gosto desta expressão: “bullying”. Acho um exagero, um excesso de poder legal, de abuso de intervenção do Estado no que diz respeito à padronização do comportamento. Acredito que precisamos lhe dar melhor com estas situações. Enfrentar estes comportamentos é um reflexo da adaptação do indivíduo à sociedade. Em busca de um entrosamento social, o indivíduo começa a buscar uma identificação excessiva e, em algum momento ele não irá encontrar, afinal, somos diferentes. Daí surgem as rejeições, mas é necessário buscar uma maneira de lhe dar com elas.
Magrellos em Pauta – Como reagir, então, a estas agressões do dia a dia, de maneira positiva?
Cláudio Melo – Olha, existem basicamente duas opções: A primeira delas é buscar a mudança. No caso do indivíduo magro, buscar o ganho de peso, através de tratamento para este fim. A segunda opção é buscar se adaptar. Ora, sou uma pessoa magra, mas sou bem resolvido, me aceito do jeito que sou. É assim que a pessoa deve pensar quando não está realmente incomodada com a própria aparência.
Magrellos em Pauta – Por falar nisso, percebo que, muitas vezes, as pessoas se incomodam mais com as críticas e cobranças que recebem daqueles que os cercam do que com o próprio corpo. Essa “pressão social” pode causar danos psicológicos mais sérios?
Cláudio Mello – Devemos tomar cuidado para o excesso de patologia. Nem toda reação que somos exigidos a ter no dia a dia deve ser tratada como patologia e servir de justificativa para um acompanhamento psicológico ou psiquiátrico. Apenas nos indivíduos que já possuem uma pré-disposição ao desequilíbrio mental essa “pressão social” em cima da sua aparência poderá desencadear um quadro clínico.
Magrellos em Pauta – Como diferenciar se é o caso de procurar uma ajuda profissional e quais transtornos podem estar relacionados a este quadro?
Cláudio Melo – O alerta principal é quando a rotina do paciente passa a ser prejudicada e ele já não consegue exercer suas funções no trabalho, na sua vida pessoal e social. Os sintomas podem variar entre o isolamento contínuo, uma certa agressividade, falta ou excesso de apetite, etc. Daí é preciso sim buscar uma ajuda profissional, pois podemos estar de frente a transtornos como depressão, anorexia, bulimia, pânico, enfim, uma infinidade de patologias que precisam ser investigadas e tratadas para a reabilitação do paciente.
Cláudio Melo é psicólogo da clínica
Espaço Holos – Psiquiatria Integrada é formado pela
UFBA e mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro -
UFRJ.