sexta-feira, 21 de junho de 2013

Deixando a magreza para trás...

Eugênia antes e depois da mudança de corpo
“Fui magra a maior parte da minha vida e era muito feliz. As roupas me caíam bem e nunca estava preocupada em comer guloseimas. Atualmente, engordei alguns quilos, experimento tudo, pois sempre pego a roupa errada, o número errado. Cheguei à conclusão que meu corpo mudou, mas a minha cabeça continua de magra”, desabafa a pedagoga Maria Eugênia Correia, 49, que há cerca de 5 anos vem sofrendo um ganho de peso e ainda não se acostumou com o novo corpo.

Este fenômeno é mais comum do que se possa imaginar. Qual o magro(a) que nunca ouviu de uma pessoa mais gordinha o seguinte comentário: “Eu já fui assim...” como se o estado de magreza pudesse ser deixado para trás num piscar de olhos?

Na verdade, o processo não é tão rápido assim, mas realmente, especialistas confirmam que é muito comum, magros ganharem peso ao longo da vida a ponto de mudarem completamente o seu biótipo.

Ainda de acordo com a endocrinologista Alina Feitosa, a Taxa de Metabolismo Basal, que é a quantidade mínima de energia necessária para manter as funções vitais do organismo em repouso é uma taxa variável e tende a diminuir com o tempo.

“Existe uma tendência de as pessoas perderem massa magra e ganharem massa gorda com o passar do tempo. Isso está relacionado à produção hormonal e também ao estilo de vida da pessoa, que geralmente, tendem a ingerir uma quantidade calórica igual ou maior que o necessário ao tempo que realizam cada vez menos atividades físicas”, diz Feitosa.

Com o consultor fiscal Carlos Oliveira, 52, não foi muito diferente. Desde a infância até a fase adulta sempre teve o corpo bem magro e é capaz de relatar uma verdadeira lista de apelidos que recebeu por conta da sua magreza. Hoje, já com sobrepeso, se lembra do passado como uma realidade bem distante.


Carlos começou a engordar aos 30 anos
“Recebia apelidos na escola e até dos próprios primos, com quem eu tinha mais convivência. Era coisa do tipo: Sete osso, Boca de caçapa, Esqueleto. Quando comecei a ganhar peso, me sentia até orgulhoso do novo corpo, mas hoje, já tenho de me policiar com a balança, infelizmente”. 

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Estado de magreza significa falta de saúde?



Foto: Divulgação
Invariavelmente, as pessoas magras são associadas a pessoas doentes. O estado de magreza desperta na maioria das pessoas um repúdio quase sempre equivocado, que se reflete em preconceitos graves. 

Quem é magro costuma ouvir coisas do tipo: “Nossa...você é tão magro que parece que tem Aidis”, ou “Olha suas costelas aparecendo, você não tem comida em casa não?”, ou ainda “Não posso nem te abraçar porque tenho medo de quebrar seus ossos”.

Para a endocrinologista Alina Feitosa, a associação entre magreza e falta de saúde realmente é comum, pois, hoje em dia, a maior parte da população está acima do peso e ser magro, inevitavelmente chama a atenção. 

“Isso está fortemente ligado aos fatores culturais da sociedade. Se observarmos um filme dos anos 50, por exemplo, vamos verificar a maior parte das pessoas são magras. Hoje as referências mudaram e conceitos como comemorações e estado de felicidade e satisfação estão diretamente relacionados ao ato de comer e comer muito”, afirma Feitosa.

Contudo, a pessoa que é magra por natureza não necessariamente é ou está doente. É o que afirma a endócrina que aproveita para completar: “Realmente, algumas doenças como a neoplasia, alterações na tireóide, a má absorção de nutrientes e até a doença celíaca podem provocar um estado de magreza, mas aqueles que se mantém magros naturalmente o conseguem, quase sempre, através do estilo de vida que levam”.

Para explicar como os hábitos do dia a dia interferem no peso, a médica tanta dar exemplos. “Os magros geralmente obedecem a dois padrões: 

“O primeiro é aquele que come mas, não  excede. O segundo acha que comeu muito mas na verdade come o equivalente ou até menos do que a energia que precisa para exercer as suas funções diárias”, esclarece a doutora.

Tentando desvendar o mistério que ronda aqueles que são chamados de “magros de ruim”, fazendo referência ao hábito de comer e não engordar, a médica é categórica:

“Se aumentarmos a dieta calórica dessa pessoa e diminuirmos o gasto de energia dela, inevitavelmente, ela ganhará peso, a não ser que, realmente, o estado de magreza desta pessoa mascare alguma deficiência orgânica, mas caso contrário, ela irá engordar sim”.

Alina Feitosa é médica doutora em Endocrinologia e Metabolismo, faz parte do corpo docente da Escola Bahiana de Medicina e atua na prática clínica.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Magros também sofrem preconceito?

O psicólogo Cláudio Melo faz restrições à palavra bullying 


Assim como aqueles que estão acima do peso, muitos magros precisam e, às vezes, até se acostumam a conviver com inúmeras agressões psicológicas praticadas dia a dia pela sociedade.

São apelidos pejorativos, críticas à sua aparência, olhares de desprezo ou desaprovação. Para conversar um pouco sobre este preconceito, o Magrellos em Pauta convidou para uma entrevista o psicólogo Cláudio Melo.

A intenção é explicar porque somos tão cobrados pela aparência e como devemos lhe dar com estas cobranças, além de, claro, abrir um fórum de discussão sobre o assunto.

 Magrellos em Pauta – Como explicar esta ditadura da beleza, na qual quem não se enquadra nos padrões pré estabelecidos está fadado ao julgamento alheio?  

Cláudio Melo – No passado, lá pelo século XIX, vivia-se uma ditadura mais conceitual, presa aos padrões e tradições da época. Hoje a situação mudou e vivemos uma ditadura corporal, onde a sociedade estabeleceu um padrão de beleza e somos todos exigidos e cobrados de acordo com estes padrões.

Magrellos em Pauta – Quando não preenchemos as exigências corporais estabelecidas, somos cobrados das mais diversas formas, muitas vezes até agressivas. São apelidos maldosos, rejeição social, questionamentos invasivos e abusivos. Podemos então falar de um “bullying social”?  

Cláudio Melo – Não gosto desta expressão: “bullying”. Acho um exagero, um excesso de poder legal, de abuso de intervenção do Estado no que diz respeito à padronização do comportamento. Acredito que precisamos lhe dar melhor com estas situações. Enfrentar estes comportamentos é um reflexo da adaptação do indivíduo à sociedade. Em busca de um entrosamento social, o indivíduo começa a buscar uma identificação excessiva e, em algum momento ele não irá encontrar, afinal, somos diferentes. Daí surgem as rejeições, mas é necessário buscar uma maneira de lhe dar com elas.

Magrellos em Pauta – Como reagir, então, a estas agressões do dia a dia, de maneira positiva?

Cláudio Melo – Olha, existem basicamente duas opções: A primeira delas é buscar a mudança. No caso do indivíduo magro, buscar o ganho de peso, através de tratamento para este fim. A segunda opção é buscar se adaptar. Ora, sou uma pessoa magra, mas sou bem resolvido, me aceito do jeito que sou. É assim que a pessoa deve pensar quando não está realmente incomodada com a própria aparência.

Magrellos em Pauta – Por falar nisso, percebo que, muitas vezes, as pessoas se incomodam mais com as críticas e cobranças que recebem daqueles que os cercam do que com o próprio corpo. Essa “pressão social” pode causar danos psicológicos mais sérios?  

Cláudio Mello – Devemos tomar cuidado para o excesso de patologia. Nem toda reação que somos exigidos a ter no dia a dia deve ser tratada como patologia e servir de justificativa para um acompanhamento psicológico ou psiquiátrico. Apenas nos indivíduos que já possuem uma pré-disposição ao desequilíbrio mental essa “pressão social” em cima da sua aparência poderá desencadear um quadro clínico.

Magrellos em Pauta – Como diferenciar se é o caso de procurar uma ajuda profissional e quais transtornos podem estar relacionados a este quadro?  

Cláudio Melo – O alerta principal é quando a rotina do paciente passa a ser prejudicada e ele já não consegue exercer suas funções no trabalho, na sua vida pessoal e social. Os sintomas podem variar entre o isolamento contínuo, uma certa agressividade, falta ou excesso de apetite, etc. Daí é preciso sim buscar uma ajuda profissional, pois podemos estar de frente a transtornos como depressão, anorexia, bulimia, pânico, enfim, uma infinidade de patologias que precisam ser investigadas e tratadas para a reabilitação do paciente.

Cláudio Melo é psicólogo da clínica Espaço Holos – Psiquiatria Integrada é formado pela UFBA e mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ.