quinta-feira, 6 de junho de 2013

Magros também sofrem preconceito?

O psicólogo Cláudio Melo faz restrições à palavra bullying 


Assim como aqueles que estão acima do peso, muitos magros precisam e, às vezes, até se acostumam a conviver com inúmeras agressões psicológicas praticadas dia a dia pela sociedade.

São apelidos pejorativos, críticas à sua aparência, olhares de desprezo ou desaprovação. Para conversar um pouco sobre este preconceito, o Magrellos em Pauta convidou para uma entrevista o psicólogo Cláudio Melo.

A intenção é explicar porque somos tão cobrados pela aparência e como devemos lhe dar com estas cobranças, além de, claro, abrir um fórum de discussão sobre o assunto.

 Magrellos em Pauta – Como explicar esta ditadura da beleza, na qual quem não se enquadra nos padrões pré estabelecidos está fadado ao julgamento alheio?  

Cláudio Melo – No passado, lá pelo século XIX, vivia-se uma ditadura mais conceitual, presa aos padrões e tradições da época. Hoje a situação mudou e vivemos uma ditadura corporal, onde a sociedade estabeleceu um padrão de beleza e somos todos exigidos e cobrados de acordo com estes padrões.

Magrellos em Pauta – Quando não preenchemos as exigências corporais estabelecidas, somos cobrados das mais diversas formas, muitas vezes até agressivas. São apelidos maldosos, rejeição social, questionamentos invasivos e abusivos. Podemos então falar de um “bullying social”?  

Cláudio Melo – Não gosto desta expressão: “bullying”. Acho um exagero, um excesso de poder legal, de abuso de intervenção do Estado no que diz respeito à padronização do comportamento. Acredito que precisamos lhe dar melhor com estas situações. Enfrentar estes comportamentos é um reflexo da adaptação do indivíduo à sociedade. Em busca de um entrosamento social, o indivíduo começa a buscar uma identificação excessiva e, em algum momento ele não irá encontrar, afinal, somos diferentes. Daí surgem as rejeições, mas é necessário buscar uma maneira de lhe dar com elas.

Magrellos em Pauta – Como reagir, então, a estas agressões do dia a dia, de maneira positiva?

Cláudio Melo – Olha, existem basicamente duas opções: A primeira delas é buscar a mudança. No caso do indivíduo magro, buscar o ganho de peso, através de tratamento para este fim. A segunda opção é buscar se adaptar. Ora, sou uma pessoa magra, mas sou bem resolvido, me aceito do jeito que sou. É assim que a pessoa deve pensar quando não está realmente incomodada com a própria aparência.

Magrellos em Pauta – Por falar nisso, percebo que, muitas vezes, as pessoas se incomodam mais com as críticas e cobranças que recebem daqueles que os cercam do que com o próprio corpo. Essa “pressão social” pode causar danos psicológicos mais sérios?  

Cláudio Mello – Devemos tomar cuidado para o excesso de patologia. Nem toda reação que somos exigidos a ter no dia a dia deve ser tratada como patologia e servir de justificativa para um acompanhamento psicológico ou psiquiátrico. Apenas nos indivíduos que já possuem uma pré-disposição ao desequilíbrio mental essa “pressão social” em cima da sua aparência poderá desencadear um quadro clínico.

Magrellos em Pauta – Como diferenciar se é o caso de procurar uma ajuda profissional e quais transtornos podem estar relacionados a este quadro?  

Cláudio Melo – O alerta principal é quando a rotina do paciente passa a ser prejudicada e ele já não consegue exercer suas funções no trabalho, na sua vida pessoal e social. Os sintomas podem variar entre o isolamento contínuo, uma certa agressividade, falta ou excesso de apetite, etc. Daí é preciso sim buscar uma ajuda profissional, pois podemos estar de frente a transtornos como depressão, anorexia, bulimia, pânico, enfim, uma infinidade de patologias que precisam ser investigadas e tratadas para a reabilitação do paciente.

Cláudio Melo é psicólogo da clínica Espaço Holos – Psiquiatria Integrada é formado pela UFBA e mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ.

2 comentários:

  1. Pessoas que cuidam excessivamente do corpo, costumam apostar sua felicidade nisso, quando vêem gordos ou magros sendo felizes sem precisarem de sacrifícios, criam essa regra de que ser gordo ou magro é ruim ou feio, apenas para fazerem a infelicidade de quem é feliz sendo quem é.
    Não importa o corpo, mas a vida que se leva.

    ResponderExcluir
  2. Ser magro não é uma opção e sim uma condição. Fui magra a maior parte da minha vida e era muito feliz. As roupas me caíam bem e nunca estava preocupada em comer guloseimas. Comia o que queria e podia. Na hora de comprar roupas, nunca errava, nem precisava experimentar, escolhia e levava, pois tudo ficava bonito. Atualmente, engordei alguns quilos, experimento tudo, pois sempre pego a roupa errada, o número errado. Cheguei á conclusão que meu corpo mudou, mas a minha cabeça continua de magra. Não sei de quanto tempo vou precisar para me adaptar, mas não me preocupo, pois sou muito bem resolvida. Acho que o isso é o mais importante, se você se sente bonita e bem as outras pessoas acabam te vendo assim também. É preciso aceitar-se do jeito que é e procurar ser feliz acima de tudo. Um grande beijo aos magros, gordos, brancos pretos...

    Maria Eugenia Rodrigues

    ResponderExcluir